A presidente Dilma Rousseff (PT) não segurou a emoção na cerimônia de entrega do relatório final da Comissão Nacional da Verdad (CNV). Ela foi às lagrimas ao citar "aqueles que perderam amigos e familiares" durante o período da ditadura.
"O Brasil merecia a verdade, as novas gerações mereciam a verdade", disse a presidente na cerimônia realizada na manhã desta quarta-feira - Dia Internacional dos Direitos Humanos e a data escolhida pela comissão para entregar o dossiê. Dilma garantiu que o governo se debruçará sobre as recomendações e propostas da comissão para poder "tirar todas as consequências necessárias".
A entrega do relatório, após dois anos e sete meses de trabalho, marca o encerramento das atividades da CNV. A comissão foi criada em maio de 2012, pela lei 12.528/2011, para investigar e esclarecer as graves violações de direitos humanos ocorridos entre 1946 a 1988 - período entre as duas últimas constituições democráticas brasileiras - com a finalidade de efetivar o direito à memória e à verdade histórica.
434 mortos e desaparecidos
O mesmo dossiê entregue à presidente está disponível no site da comissão e poderá ser acessado por qualquer pessoa. O relatório final está dividido em três volumes. No primeiro, consta a descrição das atividades da CNV e a apresentação dos métodos e dinâmica das graves violações de direitos humanos.
No segundo volume, estão os textos que tratam da resistência à ditadura militar, assim como a participação dos civis no golpe de 1964 e no regime ditatorial. E no terceiro capíulo, o mais extenso e expressivo, está a história dos 434 mortos e desaparecidos políticos.
De acordo com a comissão, foram evitadas abordagens de caráter analítico. "Foi dada prioridade a um enfoque calcado na descrição circunstanciada dos fatos ocorridos no período investigado, com especial atenção para o regime ditatorial que se prolongou de 1964 a 1985, em função da extrema intensidade do quadro de violações".
O relatório propõe a criação de um órgão público para que as ações e recomendações da CNV tenham seguimento. A comissão ressalta que o relatório não é definitivo e que novas investigações devem acarretar em um número ainda maior de mortos e desaparecidos - especialmente de camponeses e indígenas.
Nos dois anos e sete meses de trabalho, a CNV se dedicou à busca e à pesquisa de documentos, ouviu mais de mil depoimentos, efetuou diligências em locais de repressão, realizou dezenas de sessões e audiências públicas por todo o terrirório nacional.