O silêncio vindo do Palácio do Planalto e a convulsão gerada no Congresso retratam o impacto da prisão de Eduardo Cunha no meio político.
Atrás das grades, Cunha carrega a dúvida sobre fechar um acordo de delação premiada e delatar figuras importantes da política. “Causa estresse político”, resumiu o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM).
A colunista da BandNews FM Dora Kramer disse, logo após a prisão do ex-deputado, que existe a possibilidade da delação. Para a jornalista, se o político tiver alguma denúncia que possa acrescentar às investigações, tudo conspira para que ele feche um acordo com a procuradoria.
O ex-deputado sempre adotou o discurso de afastar um acordo porque, justificava, “não tinha o que delatar”. A defesa de Cunha também nega a possibilidade. O risco de a mulher, Cláudia Cruz, e a filha Danielle Cunha também serem presas é apontado como um ingrediente que poderia fazê-lo mudar de ideia.
No governo, a ordem foi para que os ministros evitassem comentários a respeito da prisão. A atuação ficará restrita a evitar que o clima seja contaminado, provocando a paralisação de votações.
Na Câmara e no Senado, o assunto predominou. “A prisão era esperada. Tudo tem seu tempo. Ele usou o poder para pressionar”, acusou o presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PR-BA).
“A prisão demonstra que estávamos certos em cassá-lo”, completou o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ)
Os acalorados debates deram lugar a troca de acusações. “Se ele fizer uma delação, esse governo Temer não se sustenta por um dia”, atacou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).
A base aliada começou a enfatizar que a prisão de Cunha demonstra que a Lava Jato não se trata de uma perseguição ao PT e a sugerir que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ser o próximo. “Amanhã pode ser Lula. Não é motivo de comemoração”, atacou o deputado Alberto Fraga (DEM-DF).
“O que ocorre com Lula é uma perseguição política seletiva, não há nenhum fato que o coloque como réu”, rebateu a líder da minoria, Jandira Feghali (PCdoB-RJ).