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26/09/2014 às 15h50min - Atualizada em 26/09/2014 às 15h50min

Bom Senso F.C.: “um ano é pouco tempo”

Movimento completa 12 meses; após fazer muito barulho no país, poucas mudanças ocorreram

esportes@band.com.br
Valter Junior, do Metro Porto Alegre

O início foi barulhento, com frases fortes atacando o comando do futebol brasileiro. Iniciado em 24 de setembro do ano passando com a formulação de um documento com a assinatura de 25 jogadores enviado à CBF, o Bom Senso F.C. reivindicava melhorias no futebol brasileiro. O movimento cresceu, apareceu, mas o embrião plantado há um ano ainda não germinou.

 

Uma semana após o pontapé inicial, 300 jogadores haviam aderido ao movimento, quando ocorreu a primeira reunião, em 30 de setembro. No site da entidade, uma petição pedindo para a CBF democratizar o seu estatuto possui atualmente 75 mil assinaturas.

 

“Um ano parece muito, mas é pouco tempo para uma classe que vinha há muito tempo desunida”, pondera o goleiro Roberto, da Ponte Preta, um dos mais atuantes do grupo. 

 

Os atletas pregam um calendário mais justo, medidas para levar mais torcedores aos estádios e administrações responsáveis nos clubes, mesmo que isso acarrete na redução de salários. A principal vitória nesses meses 12 meses foi conseguir o adiamento da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, que tem como um dos alicerces o parcelamento da divida dos clubes com o governo, para que um debate maior com agremiações e jogadores ocorra.

 

Mesmo sem o alarde do início, o Bom Senso segue articulando para melhorar o futebol brasileiro para todos os envolvidos na atividade.

 

Confira as principais propostas do Bom Senso F.C.:

 

- Calendário: querem um calendário mais justo; segundo dados do movimento, 16 mil jogadores ficam desempregados após os estaduais, enquanto os times de elite jogam até 85 partidas no ano.

- Finanças: querem que haja um controle das finanças, obrigando os clubes a gastarem apenas o que arrecadam.

- Público: os atletas querem melhorar a média de público melhorando segurança, comodidade, preço de ingresso, horário dos jogos para dar maior credibilidade ao futebol e aumentar a quantidade de pessoas nos estádios.

Mais números:

75 jogadores assinaram a primeira manifestação do Bom Senso F.C., em 24 de setembro do ano passado. A primeira reunião ocorreu seis dias depois.

85% dos clubes brasileiros ficam inativos por mais de seis meses no ano. Das 684 agremiações do país, 583 não têm calendário anual. 

Qual o balanço do primeiro ano?

Deu para debater com as pessoas, expor nossas ideias. Conseguimos levar até às pessoas algumas medidas que são benéficas ao futebol brasileiro. Chegamos a falar com a presidente. Agora falta as pessoas que administram o Brasil, os políticos. Temos que, de certa forma, aguardar um pouco. Conseguimos a união de vários atletas. Um ano parece muito, mas é pouco tempo para uma classe que vinha há muito tempo desunida. A tendência é nos unirmos cada vez mais. Aos poucos vamos passando etapas que nos deixam mais forte. Quem sabe um dia conseguimos mudar o futebol brasileiro para melhor.

 

Na prática as mudanças ainda não ocorreram. O que vocês imaginam como próximos passos?

Chegamos num ponto que uma das questões são as leis, como a de responsabilidade fiscal. Dependemos dessas pessoas. De elas entenderem se isso será benéfico para o futebol brasileiro ou não. Cabe a elas decidirem. Depende dessas questões políticas. Que elas aceitem as mudanças que ainda não ocorreram.

 

A CBF parece estar menos propensa a mudar. É o que vocês sentem?

A CBF envolve a política do Brasil. Apresentaram o calendário do ano que vem e nada mudou. Não estão aceitando a mudança. Acham que não interessa. Acham que o que apresentamos não será benéfico ao futebol brasileiro, pois não houve mudanças. 

 

Se falou em possibilidade de greve. Isso ainda é cogitado?

Estamos vendo alguns casos no futebol brasileiro que são vergonhosos. Atletas que não recebem, que estão envolvidos num processo que não podem se transferir para clube algum, porque os direitos não pertencem ao clube. Estão três, quatro meses sem receber. São coisas fora da realidade. Coisas no futebol que passam do âmbito desportivo, é questão humanitária. São casos de polícia. Temos que mudar o mais rápido possível. Já deu a hora de mudar. Futebol é a única profissão que o empregado fica três, quatro meses sem receber e nada acontece. Estou com um processo na Justiça desde 2009, com perspectiva de receber daqui a três anos. É um dinheiro que podia ter recebido há oito anos. Esse dinheiro poderia ter sido investido em várias coisas. Com as mudanças de mercado, não consigo investir nem um terço. Já virou várzea. Virou bagunça. Um ano é pouco para unir uma classe em que muitos não são instruídos. Esse ano foi muito vitorioso. Não vamos mudar o futebol em um ano. Se fala que (o Bom Senso) está muito parado, mas esse negócio do futebol vem de muitos anos. Uma coisa é certa: cada tempo que passa estamos nos unindo mais. Estamos pensando e vendo onde podemos por a cara. 

 

Se coloca prazo para algum tipo de mudança?

Os clubes ficam de dar aval e tomar uma decisão, mas não tem como dizer que isso será resolvido daqui um, dois meses. Vai demorar um tempo maior. A gente acha que existem coisas, de responsabilidade de dirigentes, que poderiam ser mudadas muito mais rapidamente do que estão acontecendo. Mas há um ano isso nem era discutido. Infelizmente, teremos que ter paciência, pois o que queremos vai contra o interesse de algumas pessoas. E elas  simplesmente vetam e acabou. É complicado. Tem gente que não olha o bem da população, olha só a sua volta. 

 

Se os clubes fossem unidos, facilitaria para que mudanças ocorressem?

Acho que sim. Se os clubes tomassem uma decisão que eles próprios pudessem opinar e votar, no estilo de se não mudar ninguém joga. Se os clubes tomarem essa decisão ficaria mais fácil. Não estaria expondo os atletas. Seria determinação do clube. Seria mais fácil se a mudança partisse dos clubes. 

 

Os clubes pequenos jogam pouco durante o ano e os grandes jogam muito. O que é pior?

Recebo ligações de amigos meus desesperados que saíram da Série D e acabou o ano deles. Tem amigos meus que jogaram 19 partidas nos estaduais e acabou o ano. Como dizer que é atleta profissional se o ano tem 12 meses e joga três e fica nove desempregado? Quem joga muito também é complicado. É muita viagem, muito deslocamento. Há um excesso de jogos. O diretor investe no clube para contratar um atleta e não pode contar com ele todos os jogos. O problema são os extremos.


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